28 avril 2010

Juste le début. Et la fin.


Parmi les poètes que nous a fait découvrir  Cleonice, notre professeur de littérature brésilienne à Lisbonne : Joao Cabral de Melo Neto. En baguenaudant sur internet, je tombe sur un texte tiré de Os três mal amados ( les trois mal aimés) :



Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
(...)
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia 
"Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas",Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

Je le traduirais bien mais d'abord je dois répondre au courrier, j'ai trop de retard.

Juste le début. Et la fin.

L'amour a mangé mon nom, mon identité, mon portrait.  L'amour a mangé la certitude de mon âge, ma généalogie, mon adresse. L'amour a mangé mes cartes de visite. L'amour est venu et il a mangé tous les papiers où j'avais écrit mon nom.

L'amour a mangé sur l'étagère tous mes livres de poésie. Il a mangé, dans mes livres en prose, toutes les citations en vers. Il a mangé dans le dictionnaire tous les mots qui auraient pu s'assembler en vers.


...


L'amour a mangé ma paix et ma guerre. Mon jour et ma nuit. Mon hiver et mon été. Il a mangé  mon silence, mon mal de tête, ma peur de la mort.




J'ai bien peur que peu de textes de Joao Cabral de Melo Neto  ne soient disponibles en français. Il est mort il y a dix ans et on parlait de lui pour le Prix Nobel. 






3 commentaires:

Agnès a dit…

C'est tres beau. Il faut donc que tu voies le film Amore (I am love) de Luca Guadagnino...

christinecho a dit…

un peu improbable ici mais qui sait la télévision nous fait parfois d'étonnantes surprises...

McdsM a dit…

Mangez-moi! Mangez-moi! Mangez-moi!